A Gestão de Crises...

A gestão de crises é uma problemática com a qual toda a administração se deve preocupar. Um governo pode sempre enfrentar subitamente um escândalo político, uma privatização impopular, uma quebra súbita da popularidade do Presidente. Em qualquer de estes casos o governo não pode permanecer passivo, vendo como se quebra a sua plataforma de legitimidade. Para estas circunstâncias trabalhamos e oferecemos serviços aos governos.

Gostávamos de colocar aqui um caso particular de gestão de crises: o que é que se deve fazer quando os dados das sondagens eleitorais, na recta final da campanha avisam um candidato, que este caminha inequivocamente para a derrota. Muitas vezes é nesse momento, quando há poucas coisas para fazer, que o candidato decide contratar um especialista.

A favor ou contra o tempo.

Ganhar campanhas eleitorais é fácil, quando se utilizou bem o tempo. Em sistemas eleitorais aonde há reeleição, o Presidente ou o Primeiro-Ministro tem vários anos para trabalhar a sua comunicação, vincular-se correctamente com os eleitores, trabalhar com tempo as desconfianças de quem não votou nele e assegurar firmemente o voto dos seus eleitores. Quando isto sucede, a segunda eleição é um mero trâmite de recondução e aplauso.

As coisas não são tão simples na maioria dos casos, no entanto embargo, porque os Presidentes, Primeiro-Ministro ou o poder muitas vezes esquecem-se da comunicação, esquecem-se da importância estratégica de ter satisfeito aos seus eleitores. Muitas vezes esquecem-se também do caminho de regresso ao triunfo. Quando as eleições se aproximam, os eleitores voltam a ser importantes, voltam a ser objecto de atenções e privilégios, mas muitas vezes já é demasiado tarde.

Outras vezes há candidatos pouco notórios, que tiveram pouco apoio do seu partido, e que passaram por eleições internas problemáticas, e a poucas semanas do sufrágio são pouco conhecidos ou pouco reconhecidos como capazes. Logo, tem potencialmente poucos eleitores.

O caso mais comum, no entanto, é o dos candidatos que somente ouvem os elogios do seu séquito, que os convence de que tudo vai bem, e de que todos vão como uma música doce para os seus ouvidos, que o convencem de que tudo está muito bem e que todo o mundo votará por ele. Que não necessita a ajuda de ninguém especialista de campanhas. Tudo corre bem, até que as sondagens lhe demonstram a verdadeira face da realidade. Então faltam poucas semanas para o dia de a eleição e nada parece poder salvá-lo de um fracasso ruidoso.

Em qualquer dos casos, é frequente que os candidatos sejam atropelados pelos timings e que não consigam criar uma campanha que lhes dê possibilidades de ganhar ou de ter um desempenho honroso. Quando isto sucede, a catástrofe eleitoral é uma ameaça que atemoriza o candidato, mas ainda mais o seu partido. Uma derrota demasiado retumbante não só fecha o caminho para um projecto pessoal, circunstancial, mas também muitas vezes deixa fora da esfera do poder a um partido durante muitos anos. Para conjurar estas dramáticas perspectivas é que se recorre a um especialista para fazer uma gestão da crise.

 

A gestão da crise durante uma campanha eleitoral

A gestão da crise numa campanha geralmente supõe duas coisas. Que o nosso candidato lhe vai pessimamente mal e que temos pouco tempo. Algo similar a um boxeador pelo título mundial que chega à última volta grogue e acossado pelos golpes de seu adversário.

Em uma situação assim, não temos tempo para fazer detalhados estudos do eleitorado, para planificar fases de campanha donde ganhamos passo a passo a um leque amplo de eleitores diferentes. Temos que jogar contra o tempo e contra a imagem negativa que já adquiriu nosso candidato. Nesta situação urge fazer maravilhas tácticas, porque o tempo das elaboradas estratégias já passou.

Como fazemos estas maravilhas tácticas? Tratamos de conseguir os seguintes efeitos:

1) Virar a mesa, quer dizer quebrar os moldes que foram assumidos antes com o nosso candidato e com o nosso adversário e que nos levaram à beira da derrota.

2) Fazer uma mudança súbita de imagem, com grande efeito de impacto, que não passe despercebido a ninguém, no nosso candidato.

3) Induzir uma mudança súbita de imagem negativa no adversário, tentando levá-lo a cometer erros. Numa situação de crise, os erros do adversário tem muito maior poder de fazer crescer o nosso candidato que os seus acertos. Isto não quer dizer em absoluto, falar mal do adversário, coisa que, pelo contrário, lhe fortaleceria a posição.

4) Apostar em grupos sociais extremos, em opinion makers e em desinteressados na política e em desinformados. Uns e outros, por conveniência pessoal num caso e por desinteresse ou simples desinformação por outro são os mais fáceis de captar no calor da campanha. Temos que dispor da imprensa, para chegar aos opinion makers. Criar um gabinete de crise táctico diário, que atenda particularmente à televisão para poder chegar aos desinformados. Não podemos esquecer que a duas ou três semanas das eleições ainda temos 25% do eleitorado, pelo menos, que ainda está indecisa. Estes votos, das pessoas mais desinformadas, são geralmente suficientes para reverter uma eleição, apesar de terem um óbice, regra geral votam em quem acham que vai ganhar e isso não é o caso deste cenário. Por isso na gestão da crise eleitoral temos que criar um quinto efeito.

5) Devemos criar a sensação de poder, isto por diversas vias, gerar o feito da reviravolta dos acontecimentos. De que já não é certo o que se supunha uma semana atrás.

Todos estes efeitos são matéria quotidiana na gestão de uma crise de campanha eleitoral. Para que as coisas funcionem deve haver um alinhamento perfeito entre a equipa da campanha e o consultor porque quando tudo está quase perdido na há tempo para discutir as opções tácticas do especialista. Por outro lado, a gestão da crise tem um custo muito mais elevado, porque tem um altíssimo nível de stress e porque a reputação profissional do consultor pode ser mais uma vítima acessória do candidato em dificuldades.

Porque é que fazemos, então, gestão de crises? Porque para um consultor são, de longe, as campanhas mais entusiasmantes e estimulantes de ganhar.